FACUNDO GUERRA

Estima-se que um milhão de empresas brasileiras deixem de existir no Brasil nos meses que sucederem o fim da pandemia, esta que não parece deixar nosso horizonte tão cedo. Um milhão é um número sonoro, que dá uma pálida ideia das devastadoras consequências do vírus em nossa economia. Um milhão, esse número tão redondo, e tão vazio de sentido. Um milhão de qualquer coisa é um número que não conseguimos apreender. Humanos não foram feitos para contar até um milhão. 

Já na escala da macroeconomia, esse milhão se dilui. Quando falamos em escalas econômicas, um milhão é infinitesimal, é quase preciso ver ele por microscópio. É na escala humana que esse número torna-se insuportável. Um milhão de negócios para a economia é um número abstrato, comum, quase vulgar, mas na escala humana representa um milhão de empreendedores que perderam seus negócios. Um milhão de sonhos (ou mais, visto que muitos desses negócios eram compostos por dois ou mais sócios), dezenas de milhões de relações pessoais, a escala da tragédia, quando transposta para a dimensão do empreendedor, é infinita. A meritocracia caiu fulminada por um raio. O propósito? Morreu afogado. O mindset se rompeu em mil cacos. Essa falência coletiva, esse fim súbito e inesperado, justo agora quando achávamos que o futuro nos traria algum alívio? Porque já eram anos e anos de promessas do tipo “ano que vem tudo será melhor” feitas por economistas que erravam suas previsões como astrólogos bêbados (a economia tem algo do esotérico da astrologia). 

Esse fim coletivo causado pela pandemia, essa falência na escala dos milhões, é algo que nunca aconteceu simultaneamente e nessa escala em um passado recente, mas todo empreendedor, quase sem exceção, precisa um dia lidar com o que chamam de fracasso, o avesso do sucesso, mas que deveria estar ao lado dele. Como lidar com o fim?

Qualquer um que já faliu, sabe. Um fim nunca é um fim. Você pode até fechar as portas do seu negócio, mas terá que lidar com as consequências do fechamento por anos a fio. O fim de um negócio não é verdadeiramente um fim, e tratarei de poupar o leitor da baboseira de “todo fim é um recomeço”. O fim do negócio é apenas uma longa via crucis de negociações com credores, processos trabalhistas e parcelamentos de impostos. Um negócio que morre dói por muitos anos, e quase nunca encontra a paz do descanso eterno. A morte de um empreendimento projeta a alma de seu criador diretamente pro inferno na Terra.

Ainda assim, depois de fechar seu negócio e do luto, começa a coceira. Aprender com os erros, tratar de achar algum capital, e colocar aquela ideia em pé. Porque a vida ensina que é preciso algum distanciamento histórico para entender que um fracasso às vezes é apenas um acidente de percurso que tinha que existir para que você consiga aquilo que almeja ali, mais adiante. Não é que todo fim é também um recomeço?

FACUNDO GUERRA
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