No lugar onde a cultura do coach, que no Brasil no mais das vezes é promovida por pessoas sem qualquer formação que colocam um “quântico” e um certo altruísmo de fachada nas técnicas que empregam para aconselhar terceiros, a farsa da meritocracia e a teologia da prosperidade, aquela que defende que a bênção financeira é o desejo de Deus para os cristãos e que a fé — e as doações ao pastor — sempre aumentará a riqueza material do fiel, se encontram, ali encontramos o empreendedorismo à brasileira, este quase-ofício que usamos para nos guiar no momento que decidimos montar nossos negócios. Acredite: não será o propósito que nos guiará para o empreendedorismo depois da covid. Será o desespero mesmo, esta que é uma razão muito legítima para se empreender. Prensado por muitos obstáculos, o futuro empreendedor, aquele que se lança neste arriscado caminho de empreender, precisa se livrar dessa ideia de empreendedorismo que foi embalada para nosso consumo de livros e cursos inúteis. Precisa entender que o empreendedorismo, mais além de colocar feijão na mesa, único “propósito” que acho inquestionável, é uma força de transformação social que talvez seja a última que possa nos tirar do buraco histórico em que nos encontramos. Se por um lado não podemos mais contar com esse desgoverno e a ópera-bufa que virou a política brasileira, do outro tampouco podemos depositar nossa confiança sobre o futuro nas corporações, que são guiadas por um único imperativo: fazer lucro a despeito das consequências. É em empreendedores reais — aqueles que têm um cafezinho, tem a mercearia no seu bairro ou a sorveteria onde você vai com a sua família — que existe uma chance de transformação social, desde que parem de dar ouvidos a estes discursos que fazem do empreendedorismo parecer uma espécie de karaokê com os maiores hits dos discursos vencedores dos Elon Musk da vida. |